Rio Demené: Um Caminho para a Amazônia

O PROJETO DEMENE

Imagem de Satélite da Bacia do Rio Demene

A importância da floresta amazônica – por sua biodiversidade e seu papel no equilíbrio atmosférico do planeta – criou uma pressão internacional em favor de sua preservação. A justa preservação, no entanto, não pode desconsiderar a existência dos habitantes da floresta – seringueiros, índios e ribeirinhos – nem a presença crescente de migrantes, investidores: fazendeiros, mineradores, madeireiros, etc. Essa população já ocupa consideráveis da regido de floresta e vai continuar avançando em busca dos recursos ali armazenados, seja por questão de sobrevivência, seja por demanda de mercado, interno ou internacional.

Não há convenção ou lei ou exército capaz de manter a floresta absolutamente intocada. Mas existem instrumentos para redirecionar a atual exploração caótica e cheia de desperdícios para um caminho mais racional, de acordo com a capacidade de regeneração da floresta, sem grandes impactos ambientais e com o necessário desenvolvimento económico. Os três principais instrumentos são o zoneamento económico-ecológico, o ordenamento territorial monitoramento ambiental. Através do zoneamento econômico-ecológico são detectadas as aptidões e restrições de cada micro região, de cada sistema ecológico, considerando as atividades da população presente e o potencial e restrições de novas alternativas econômicas. No ordenamento territorial, as potencialidades restrições detectadas pelo zoneamento se transformam em leis e politicas ambientais, econômicas e de planejamento regional. E o monitoramento ambiental é o instrumento de controle da aplicação do ordenamento ou detecção de novos problemas e da necessidade de eventuais reajustes dos instrumentos anteriores.

Nos três casos, para funcionar efetivamente, tais instrumentos devem ter um nível de detalhe, flexibilidade e agilidade de processamento capaz de acompanhar as mudanças naturais e as impostas pelo homem à natureza. Nível hoje acessível graças aos recursos dos satélites de sensoriamento remoto e sistemas geográficos de informação.

O Brasil tem tecnologia, equipamentos, recursos humanos e instalações para usar esses instrumentos em beneficio do desenvolvimento sustentável da Amazônia. Falta decisão politica. Uma lacuna preenchida por projetos governamentais burocráticos, cujo maior objetivo é a obtenção de recursos ambientais internacionais.

Senão, como explicar que a maior parte dos financiamentos obtidos pelo pais para fazer o zoneamento económico ecológico da Amazônia estejam sendo aplicados em trabalhos pouco detalhados e extremamente demorados, quando existem unidades de pesquisa do próprio Governo, com técnicos e milhões de dólares em equipamentos ociosos?

O último zoneamento proposto pelo Governo Federal é uma simples atualização de um mapa editado em 1988, bastante genérico e muito incompleto enquanto zoneamento económico-ecológico. Além disso, esta atualização custará pelo menos 5 vezes mais do que o necessário, levará dois anos para ser executada e terá um detalhamento o vezes menor do que o do projeto Radam. O Radam foi o trabalho mais detalhado e completo que o pais já produziu sobre os recursos da Amazônia. Mas foi feito com base em imagens de radar e há 15 anos atrás, antes, portanto, da era dos satélites e das campanhas mundiais de preservação ambiental.

Com a preocupação de apontar um outro caminho para a Amazônia, mais próximo da melhor alternativa cientifica que o pais pode produzir: instituições privadas somaram esforços para provar que o envolvimento com preservação é viável. Equipes da Agência Estado: orça e UNIP/Objetivo escolheram uma área piloto, numa região a preservada, para executar um exemplo de zoneamento econômico-ecológico: o rio Demene, afluente da margem Norte do rio Negro, no estado do Amazonas. Assim surgiu o Projeto Demene, com uma meta e um sonho.

O primeiro passo do projeto Demene foi constituir uma equipe multidisciplinar, composta de botânicos, biólogos, ecólogos, educadores e jornalistas. Os integrantes da equipe reuniram todas as informações possíveis sobre a área piloto e realizaram duas expedições ao local, com sobrevoos e a ajuda de imagens de satélite. Os dados científicos foram digitalizados nos sistemas de informação geográfica e deram origem a várias propostas de desenvolvimento sustentável para a área. Jornalistas e fotógrafos acompanharam passo a passo, o reconhecimento dos sistemas ecológicos e as pesquisas socioeconômicas realizadas pelos pesquisadores e todo o processo foi descrito em reportagens, publicadas nos principais jornais do pais.

O passo seguinte seria transformar esse exemplo de zoneamento econômico-ecológico em politicas regionais, através do ordenamento territorial, o que escapa à alçada das instituições participantes do projeto Demene. Por isso, o conhecimento gerado através desse trabalho vem sendo condensado em diversos produtos, cuja finalidade divulgar as informações obtidas e demonstrar à exaustão essa capacidade do pais de planejar um futuro racional para uma região tão importante.

A tecnologia e os métodos científicos utilizados na execução do zoneamento do Demene são aplicáveis a qualquer parte da Amazônia. As soluções sendo diferentes em cada caso, de acordo com a realidade local, mas 05 passos 50 os mesmos. A necessidade de zoneamento, ordenamento e monitoramento ambiental é igual em todas as florestas tropicais, porque todas estão sob grande pressão humana. Os caminhos para o desenvolvimento sustentável, por outro lado, ainda são desconhecidos ou pouco claros, em todo o mundo, mesmo para os ambientalistas mais sérios. Todos concordam quanto à urgência de se conciliar preservação e desenvolvimento, mas poucos demonstram na prática COMO fazê-lo. O projeto Demene é uma tentativa de responder a essa pergunta. O zoneamento ali executado aponta soluções viáveis, acessíveis e inadiáveis e pode ser um exemplo prático para o mundo. Basta haver decisão politica.

Se as instituições privadas e organizações não-governamentais interessadas no desenvolvimento sustentável da Amazônia não podem tomar essa decisão política é seu papel alertar autoridades e formadores de opinião sobre as alternativas disponíveis. Essa é a meta do projeto Demene.

O sonho seria multiplicar e transformar em realidade o exemplo de zoneamento do rio Demene e a partir daí construir um caminho para a Amazônia.