A história do pequeno Felipe
Primeiro filho da Camila e do Crispim, o pequeno Felipe nasceu em São José do Rio Pardo, interior de São Paulo, no dia 7 de janeiro de 1997.
Saiu da maternidade mamando, com 3,2 kg. A mamãe Camila já estava bastante triste com a suspeita de síndrome de Down, mas o pequeno Felipe mamava com força e os primeiros dias foram passando.
Logo as mamadas se espaçaram demais e o pediatra achou que poderia ser efeito colateral do medicamento Plasil, que a Camila estava tomando. Com 10 dias, porém, foi diagnosticada icterícia fisiológica e o pequeno Felipe teve de voltar ao hospital para os banhos de luz. Ele tinha emagrecido 400 gramas e acabou entrando na sonda. A Camila tirava o leite com a bombinha para colocar na sonda, mas o estresse da notícia somado ao estresse do hospital e da bombinha foram secando o leite. Da sonda, o pequeno Felipe passou para a mamadeira e assim foi durante os primeiros dois meses e meio de sua vida.
A Camila e o Crispim mudaram para Campinas e o pequeno Felipe começou a fazer estimulação precoce na Fundação Síndrome de Down (CDI). Coincidentemente, isso foi na época em que o grupo Bem-me-Quer começava a se estruturar e discutia a importância da amamentação como terapia e como prevenção de problemas na estrutura da boca, para os portadores de síndrome de Down. O grupo teve contato com uma ortodentista, Léa Amábile, que falou da possibilidade de relactação para mães de bebês Down, mesmo depois de alguns meses de mamadeira. A responsável pela estimulação precoce do CDI, Silvana Blascovi-Assis, logo pensou no pequeno Felipe.
Quando soube da possibilidade e da importância de voltar a amamentar o seu bebê, Camila topou o desafio de imediato. Ela já havia tentado sozinha recolocar o pequeno Felipe para mamar, fez massagens com vitamina E, mudou de pediatra. Ele mamava e soltava e preferia a mamadeira e ela se convenceu de que não tinha leite.
Quando entrou no programa de relactação, com a orientação médica da Dra. Maria Helena, Camila conseguiu voltar a amamentar. O programa inclui um medicamento à base de hormônios (os mesmos hormônios liberados pelo organismo após o parto) e algumas técnicas para ajustar a boca do bebê ao seio de modo correto. No início da mamada, quando bebê está mais faminto e suga com mais força, ele mama só no seio. Depois de algum tempo, quando o bebê começa a cansar ou dormir, um leite apropriado é ministrado através de uma pequena sonda, colocada junto do bico do seio e dosada através de seringa.
O objetivo é fazer com que a mãe volte a produzir leite a partir da estimulação do ato de sugar do bebê.
Para que o bebê não fique com fome e para evitar o uso da mamadeira é que se recorre à sonda.
“O Felipe respondeu fácil. Mesmo que o leite não dure muito, só a experiência da relactação já foi muito positiva”, comentou Camila. Depois de dois meses mamando no seio novamente, o pequeno Felipe começou com papinhas e frutas, ministradas de colher.
A mamadeira foi definitivamente colocada de lado. E o pequeno Felipe não parece sentir falta dela.
Ao mamar com a sonda ao seio, o Felipe se alimenta, ao mesmo tempo em que estimula a produção do leite materno.
Depois de algum tempo, o leite materno é suficiente para o início da mamada. E Camila só recorre à sonda quando o Felipe esvazia o seio e ainda está com fome.