Algumas diferenças na estrutura cerebral de portadores de Síndrome de Down

Algumas perguntas ainda estão sem resposta, na pesquisa sobre atividade cerebral de portadores da Síndrome de Down. Em sua apresentação na Conferência de Barcelona, Dr. Jésus Florez, psicólogo espanhol e pai de um menino com Síndrome de Down, destacou as seguintes questões: quais os gens que estando sobrexpressados na Síndrome de Down são responsáveis pelo comprometimento intelectual? E quantos deles estão ativos em uma dada pessoa, definindo as diferenças individuais?

Frisou a importância do que chamou de fatores epigenéticos e que determinam o desenvolvimento de uma pessoa – nutrição, ambiente, educação, etc. Em sua opinião, os fatores genéticos não são suficientes para programar os bilhões de conexões neuronais existentes no sistema nervoso. Comentou ainda sobre o conceito de apoptose, a chamada morte celular programada que existe no organismo das pessoas, processo que seria aumentado na presença de radicais livres. Mas de antemão criticou a simplificação de se pretender modificar este processo com a administração de antioxidantes. Em sua opinião a questão não é tão simples. Explicou em detalhes a diferença no processo de formação da cortex cerebral na Síndrome de Down, onde ocorre um atraso no processo chamado de laminação cortical, ainda durante a formação do feto. Isto leva a uma diferença na formacão das redes neuronais, com consequente processamento de informações auditivas e visuais de forma diferente. De acordo com o Dr. Florez, o cerebelo , estrutura do cérebro tradicionalmente associada a funções de equilíbrio, foi recentemente reconhecido como tendo importante papel nos processos de aprendizado. Ë uma das estruturas que é menor na pessoa com Síndrome de Down. Em conclusão, comentou que as pessoas com Síndrome de Down tem:

 

  • áreas reforçadas : personalidade mais afável. Em sua opinião isto é uma realidade, e não um estereótipo. Destacou ainda a forte vontade de aprender demostrada pelas pessoas com Síndrome de Down. Comentou que em sua opinião os conceitos de idade mental e QI são superados para a abordagem de pessoas com Síndrome de Down.

     

  • áreas enfraquecidas: principalmente a linguagem

Finalizando, destacou que através do que chamou de “boas práticas educacionais” muitas barreiras estão sendo trabalhadas e superadas, como: memórias de curto e longo prazo, habilidades de leitura, escrita, iniciativa, etc., com a consequente melhora na qualidade de vida das pessoas com Síndrome de Down.

 


(*) Agradecemos ao Dr. Ruy do Amaral Pupo Filho, médico pediatra e sanitarista e presidente da Associação Up Down pelas anotações e transcrição das apresentações feitas na Conferência Médica Internacional sobre Síndrome de Down, realizada em Barcelona, em 14 e 15 de março de 1997. Dr. Ruy do Amaral Pupo Filho viajou com passagens de cortesia da VASP, através da Federação das Associações de Síndrome de Down, e sua inscrição foi paga pela Associação Up Down.