Deficientes Mentais têm Escola Gratuita – 14/03/97

Reportagem publicada no Jornal do Commércio – RJ, 14/03/97

A escola estadual em Quintino, a Favo de Mel, oferece aulas de alfabetização a crianças carentes

Desde julho de 1996, funciona no Centro de Educação Integral de Quintino na escola Favo de Mel, para portadores de deficiência mental. São 92 alunos que, em período integral ou meio período, aprendem a ler e a escrever, a se integrar à sociedade e têm uma inicialização ao trabalho. A escola ganhou, em outubro de 1996, o reconhecimento do Conselho Estadual de Educação.

A Favo de Mel funciona com uma abordagem construtivista. Direcionado para alunos com deficiência mental ou dificuldades de aprendizagem, utiliza diversas técnicas para desenvolver as potencialidades dos alunos.

“Hoje em dia, considere que não se pode prever as capacidades do aluno deficiente. Não podemos limitá-lo, e nosso objetivo aqui é; a supervisora ​​pedagógica da escola, Maria Cristina Lacerda.

Entre as técnicas utilizadas, estão o ensino dos cuidados básicos com a higiene, da independência, da locomoção; a cozinha experimental – os alunos fazem bolos ou pratos salgados; a horta(as crianças brincam, mexem com a terra); a Oficina da Palavra, que conta com dramatizações e jogos para desenvolver a estruturação do pensamento; a oficina de cartonagem, na qual os alunos desenvolvem atividades lúdicas com cartolinas ou outros trabalhos manuais, a oficina de criatividade (desenho, pintura, recorte, pintura); a capoeira e a natação, que fazem parte da educação física.

A própria presidente da Faep (Fundação de Apoio à Escola Pública) – que coordena mais sete escolas além do Cei -, a professora Nilda Teves, acredita tanto na escola que o seu neto, portador de Síndrome de Down, estuda na Favo de Mel.

A faixa etária para ingresso vai de 6 a 17 anos, mas pode continuar na escola com no máximo 21 anos – até que sejam integrados nos estudos, no trabalho ou mesmo na família.

Favo de Mel –  Trabalham na Favo de Mel uma orientadara educacional, uma assistente social, 14 professores e foram solicitadas uma psicóloga e uma fonoaudióloga. As crianças – distribuídas por 9 turmas de no máximo 10 alunos cada – recebem café da manhã, lanches da manhã e à tarde almoço.

O horário de aulas na Favo de Mel é de 8 às 12h e de 13 às 17h, para meio período, é de 8 às 17h, em período integral. “O horário integral é voltado para os alunos cujos pais trabalham o dia inteiro e não têm como se dedicar ao filho de manhã e à tarde”, explica Cristina.

A escola também oferece centros de estudos, ou seja, rodas de debates organizadas pelos professores para os alunos quatro vezes por ano, com um tema por bimestre. O primeiro assunto deste ano é uma mulher. Desde o dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, até o Dia das Mães, 11 de maio, serão debatidos temas como a evolução da mulher, sua inserção no mercado de trabalho e o papel de mãe. “Essas rodas de debate são importantes para a criança compreender o que acontece ao seu redor. É importante que o aluno entenda, por exemplo, que a mãe trabalha fora e ele tem que ficar no colégio o dia inteiro. Muitas crianças não aceitam isso ” , explica Cristina Lacerda.

A escola funciona com 9 turmas atualmente, no sistema de externo, ou seja, as crianças voltam para casa no final do período de aulas. Antes, a Favo de Mel frequentou o nome da Unidade Educacional Mário Altenfelder (EMA) e foi um internato.

Na EMA, já chegou a estudar 150 internos. A mudança de política aconteceu com a modificação inteira do Complexo de Quintino, que antigamente funcionava como internacional.

O atendimento a crianças com dificuldades de aprendizagem é outro serviço da Favo de Mel. Nesse tipo de ensino, as crianças não têm deficiência orgânica, e sim externa, a chamada `deficiência circunstancial’. São crianças com distúrbios de comportamento, deficiência alimentar ou dificuldades emocionais – que apresentam problemas na família, por exemplo. Esses alunos são repetintes da primeira série do primeiro grau, e ficam por cerca de um ano na Favo de Mel até estarem prontos para serem reintegrados à escola de origem ou a outra de sua escolha ou da escolha de seus pais.

Preparando para a vida –  A supervisora ​​pedagógica Cristina explica que na Favo de Mel tenta-se alfabetizar a criança. Quando isso não é possível, os professores fazem uma alfabetização funcional, ou seja, a que explica pelo menos as palavras mais usadas no cotidiano. “O aluno aprende a diferenciar por exemplo o banheiro masculino do feminino e absorve outras noções básicas do dia-a-dia”, esclarece Cristina.

Mas, apesar de todos os benefícios – gratuitos – que o Favo de Mel oferece à comunidade, a escola passa por algumas dificuldades. Uma das principais é a relativa ao transporte dos alunos.

A unidade, que fica no Centro de Educação Integral, em uma área de um milhão de metros quadrados, é uma das mais distantes da porta de entrada do Cei, e alguns alunos têm deficiência nas pernas. “Um ônibus seria de enorme utilidade para nós”, afirma a supervisora ​​​​​​Cristina.

Está ainda previsto para este ano a criação do Centro de Reabilitação do Cei, que vai trabalhar junto com o Favo de Mel e oferecer terapias para os alunos da escola especial e para toda a comunidade. No Centro de Reabilitação serão oferecidos tratamentos de fonoaudiologia, psicoterapia e outros.