Conheça nossos jovens e seus trabalhos

Flávio Engler Cury

Flávio Engler Cury mora em Campinas, SP, e adora escrever.
Ao lado, algumas de suas poesias mais recentes.

Coração

Nas noites quentes de verão

eu canto

porque meu coração é poético.

Eu estou apaixonado por uma deusa

chamada desejo.

Estou na rua da amargura

onde moram minhas saudades

nas profundezas do meu pensamento.

Boca

Desconhecido,

tudo é tão invisível.

Coloco a melhor fantasia para esconder secretos beijos ardentes.

Silêncio

é uma boca sem dentes e não tem língua.

Vagalume

A porta está fechada com chave

e tem que tocar a campainha.

Mas eu tenho medo…

fico nervoso…

E um bicho iluminoso, o vagalume,

fica piscando…

fica piscando…

sem medo.

 Márcio Roberto dos Santos Rodrigues 

Beto e os colegas do posto: Gilmar, Rogério e Joel, em cima,
da esquerda para a direita e, embaixo, outro Beto, “nosso” Beto e Waldomiro.

Márcio Roberto dos Santos Rodrigues, o Beto, nasceu no dia 14 de Julho de 1975. É filho de Marinice dos Santos (D. Nice) e Márcio Rodrigues (falecido). Atualmente mora na cidade de Santos, SP, com a mãe e a irmã mais velha.

Sem condições financeiras e tentando driblar todo preconceito da época, somente frequentou escolas mantidas por entidades filantrópicas, sem conseguir se alfabetizar. Atualmente frequenta a Escola Meimei das 13:30 à 17:30h. Des segunda a quinta feira, de manhã, das 9:30 às 11:30 horas, trabalha no lava rápido do Posto Leão (Texaco) à Av. Valdemar Leão nº 281 – Jabaquara/Santos. Com tempo nublado ou chuva, não trabalha porque não tem movimento.

Gosta de passeios de carro e das viagens para Serra Negra, na casa dos avós paternos; São João da Boa Vista, na casa da irmã; Itanhaém, na casa do tio, e de excursões promovidas pela escola. Vai à praia, mas não pode ficar muito porque se queima com facilidade. Joga futebol de mesa, vídeo-game e adora uma festa, principalmente quando tem Michael Jackson e pagode. Também curte muito uma música romântica: Roberto Carlos, Simone, Alcione, Fábio Jr.

Na televisão, os programas favoritos são futebol, boxe, filmes de suspense, terror, super heróis e alguns românticos do tipo “Ghost”. Quando aparece alguma chamada em edição extra de jornalismo, ele logo chama a mãe, porque sabe que é algo de interessante. E, como não poderia deixar de ser, não perde um especial do Michael Jackson, mesmo que seja reprise. atenções. Nas festas de encerramento do ano letivo, tem sempre participação especial caracterizado nos personagens, escolhidos para ele: Michael Jackson, Papai Noel ou fazendo parte do elenco da peça “O Nascimento do Menino Jesus”, como um dos Reis Magos, e nada lhe tira a concentração. Em casa, num aniversário encenou a Escolinha do Professor Raimundo, com todos os personagens, e saiu-se muito bem como “Seu Boneco”.

Tem uma namorada há três anos, na escola Meimei. É a Ana Cristina (SD), apaixonadíssima por ele. Ele não assume, mesmo tendo sido pegos, meses atrás, trocando carícias bastante ousadas, em pleno corredor público da Casa da Esperança. Fala muito em casamento, gosta de bebês e de mulheres grávidas e, com gracinhas, às vezes diz ser o pai.

É bastante organizado com seus objetos, roupas e calçados. Sabe se comportar em ambientes desconhecidos e come como manda a etiqueta. É muito asseado, educado, brincalhão e extremamente carinhoso e sensível. Às vezes a mãe lhe pergunta se é feliz, e ele responde que sim. “E eu acredito muito nessa felicidade, pois raramente ele fica de mau humor”, conta D. Nice. “Quando adoece – por que abusou da comida ou pegou um resfriado – tenta ser recíproco ao tratamento que recebe, dizendo que vai cuidar de mim, quando eu ficar velhinha”, completa.

Beto foi admitido no Posto no dia 17 de dezembro de 1995 e registrado na carteira em abril de 1996. O patrão é o Sr. Alcyr, o gerente é o Nelson, o encarregado é o Sr.Joaze e o time de apoio é formado por muitos. No seu desempenho profissional, não existe paternalismo: quando ele trabalha bem, leva a gorjeta do dia, quando não… não tem gorjeta e ele sabe porque não tem.

 


Carlos Vinícius Franco da Mota

Participando das Atividades da Igreja

Carlos Vinícius Franco da Mota, o Vine, nasceu a 8 de fevereiro de 1976, em Vitória da Conquista, interior da Bahia.

Aos 4 meses começou a fazer tratamento com um médico da Alemanha, através de um médico correspondente na Bahia.

Aos 4 anos foi para uma Escola, de método Piaget, e mais tarde foi para a APAE, onde até hoje freqüenta as oficinas fazendo lindos tapetes, envelopes e etc.

Há 3 anos começou a freqüentar uma escola especializada – A Construção do Saber – onde está se dando o verdadeiro amadurecimento para a leitura e a escrita.

Vine gosta de brincar, festas, passeios. A música é verdadeira arte para ele, que toca piano de ouvido.

A natação também é uma das atividades preferidas. Já ganhou um campeonato de natação concorrendo com crianças de 12 e 13 anos.

Tem carteira de identidade e desde pequeno freqüenta a igreja. Fez catequese e a primeira Eucaristia em 23 de maio de 1993, um dia de muita alegria para toda a família. A princípio, o pároco perguntou ao bispo de Conquista se ele poderia ou não fazer a primeira Comunhão, ao que Dom Celso Pinto respondeu com um sonoro “PORQUE NÃO ?”

Ele participa com muito amor de todas as atividades da igreja, gosta muito de encontro da Renovação Carismática, é muito contemplativo e surpreende a mãe, muitas vezes, ajoelhado diante do sacrário.

Pablo Piñeda Ferrer

Pablo Piñeda Ferrer é um jovem espanhol, natural de MálagaPablo Piñeda Ferrer é um jovem espanhol, natural de Málaga. Sempre freqüentou escolas normais e foi um dos primeiros portadores de Síndrome de Down a ser atendido desde o início do Projeto Roma, há 7 anos atrás. Hoje – aos 23 anos – cursa o terceiro ano de magistério (nível universitário), devendo se formar em 1998.

O Projeto Roma é um sistema de acompanhamento individualizado dos portadores de Síndrome de Down, que visa sua inclusão no sistema comum de ensino, sem adaptações de currículo. O acompanhamento é feito por mediadores e coordenadores, que assistem às aulas freqüentadas pelos Down, uma a duas vezes por semana e observam seu desempenho escolar, suas relações sociais e desenvoltura no espaço físico. O mediador não interfere no comportamento do aluno em classe, mas, a partir da observação, propõe reforços, novos materiais ou novas alternativas pedagógicas para o professor, os familiares ou terapeutas, de modo que as eventuais dificuldades do portador de Síndrome de Down possam ser superadas. O objetivo é tornar a vida escolar, familiar e social do Down o mais normal e autônoma possível.

Jose Miguel Lopes Melero, o educador que coordena o projeto Roma em Málaga, define assim o princípio que norteia seu trabalho: “O desenvolvimento da inteligência está condicionado pelo contexto, ou melhor, pela `qualidade’ do contexto, em princípio familiar e depois escolar e social”.

Durante o VI Congresso Mundial de Síndrome de Down, Pablo Piñeda concedeu a seguinte entrevista a Liana John, do Espaço XXI:

P- Com que idade você começou a freqüentar escolas normais?

Pablo- Eu sempre cursei escolas normais. Nasci em Málaga e fiz a escola elementar (pré-escola e primário) numa escola pública. Depois fui para outras escolas, sempre normais, sempre em Málaga.

P- E havia outros portadores de Síndrome de Down nas escolas que freqüentou?

Pablo- No início não, eu era o único.

P- E como a escola e os colegas te tratavam?

Pablo- A escola tende a homogeneizar todas as pessoas e portanto o fato de ter Síndrome de Down no colégio não é normal, infelizmente. O que seria “normal” seria colocar todos os Síndrome de Down juntos e todos os normais juntos. Na sociedade, em geral, se passa o mesmo: prefere-se juntar as pessoas iguais. Mas, aos poucos, é cada vez menos assim. Estão notando que o mundo é diversificado e é uma bobagem excluir.

P- E você percebe o preconceito de que forma?

Pablo- Há 20 anos, quando comecei a ir à escola, a desinformação era maior e tudo o que era novo era um campo aberto para todo tipo de abuso. Agora a mentalidade é distinta e a sociedade tende a assumir melhor as diferenças. Mas ainda custa.

P- Quando você percebeu que tinha Síndrome de Down?

Pablo- Aos 8 ou 9 anos. Eu estava no colégio público e Miguel (Jose Miguel Lopes Melero) me perguntou se eu sabia que tinha Síndrome de Down. Eu respondi que sim, mas eu não sabia. Ele começou então a me explicar o que era Síndrome de Down, que era uma questão genética e foi, como se diz, dourando a pílula. E eu que percebo as coisas a fundo e já percebia, interrompi e lhe perguntei: Miguel, sou idiota? E Miguel disse que não, que eu era diferente. A partir daí continuou as explicações.

P- E o que significou para você saber que tinha Síndrome de Down?

Pablo- Naqueles anos imediatos não me preocupou muito. Mas pouco a pouco fiquei mais consciente da responsabilidade que tinha e resolvi levantar a bandeira da Síndrome de Down. Participei de um vídeo para que se deixassem integrar os Síndrome de Down na escola. Era para a televisão, uma reportagem sobre Síndrome de Down em Málaga e só tinha eu na escola pública.

P- Quando foi isso?

Pablo- Em 1985, eu tinha 9 anos.

P- E nesta época você tinha condições de responder a questões que profissionais ou outros pais dirigiam a você ou eles falavam mais com seus pais?

Pablo- Primeiro eles falavam muito com meus pais. Eram pais de outros Síndrome de Down. Eles perguntavam muito. Teve um boom destas questões e aos poucos os olhos se dirigiam a mim e agora tanto os pais como os profissionais dirigem-se mais a mim do que aos meus pais.

P- Você tem uma boa autonomia na sua vida? Tem por exemplo, conta em banco, carteira de motorista?

Pablo- A autonomia não é total, mas cada vez mais conquisto mais autonomia. Estou num processo. Tenho conta no banco, mas ainda não dirijo.

P- Você tem irmãos? Mora com seus pais?

Pablo- Somos 4 irmãos. Dois vivem em Madri e 2 na casa dos nosso pais. Eu sou o caçula e moro na casa dos meus pais com meu terceiro irmão.

P- Você pretende morar sozinho?

Pablo- Agora ainda não. Não tenho independência total, estou muito jovem. Mas daqui a um tempo terei que viver sozinho.

P- Do seu ponto de vista, uma vez que as escolas da Espanha já aceitam os portadores de Síndrome de Down, o que é mais importante trabalhar agora, no seu país?

Pablo- A partir de agora o mais importante é substituir a mensagem de integração pela normalização.

P- E qual a diferença, para você, entre integração e normalização?

Pablo- É a filosofia. Os deficientes mentais tiveram que se adaptar à escola para se integrar. A escola não mudou, as pessoas tiveram de se adaptar. Na normalização é normal que um Síndrome de Down esteja na escola. A escola tem de se adaptar às pessoas. Assim é também com a sociedade: a sociedade tem que se adaptar à minha presença. Muda o discurso.

P- Você está no último ano de magistério e vai se formar professor. Em que você gostaria de trabalhar?

Pablo- Gostaria de ensinar a crianças do secundário com Síndrome de Down, já integradas na escola, como um professor de apoio dentro do projeto Roma.

P- E porque o secundário? O que te atrai?

Pablo- A partir do secundário é quando se percebe melhor que se tem Síndrome de Down. Os preconceitos também são maiores. Quando as crianças são pequenas elas te aceitam, mas quando são adolescentes não. Mesmo aqueles que brincavam com você no começo, agora ficam distantes. O medo de não conseguir também é maior. Porque se você não conseguir fazer – uma prova, uma tarefa – muda a aceitação. Então acho que aí posso ser mais útil, porque além de ajudar posso servir de exemplo, como Síndrome de Down e professor.

Neste momento, Daniel, portador de Síndrome de Down, de 3 anos, filho da entrevistadora, entrou na sala e interrompeu a conversa. Pablo pegou Daniel no colo e disse:

O futuro está aqui. Nas novas gerações. Por isso levantei a bandeira da Síndrome de Down.

E Pablo abaixou a voz para sussurrar confidencialmente:

Para preparar a grande invasão dos Síndrome de Down!!